COM SIMPLICIDADE E MUITO CONHECIMENTO, PROF. MARCUS NAKAGAWA ABORDA AÇÕES SIMPLES, MAS URGENTES, PARA REGENERAÇÃO DO PLANETA E DAS RELAÇÕES NO QUINTO ENCONTRO DO CICLO DE HUMANIZAÇÃO DA PRO CRIANÇA CARDÍACA
Em 2019, Marcus Nakagawa recebeu o Prêmio Jabuti categoria Economia Criativa com “101 dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo”. O reconhecimento de uma obra com esse teor com o maior prêmio do mercado editorial brasileiro sinaliza o quanto a sociedade precisa se transformar. Também traz consigo a mensagem principal: a mudança começa com cada um e é um exercício diário.
“Nosso planeta precisa manter seus recursos naturais e infelizmente já estamos no cheque especial. Desde 22 de agosto, a Terra está no vermelho e não consegue regenerar tudo o que os humanos consumirem até o final do ano”, alerta Nakagawa. Ele se refere ao “Dia da Sobrecarga da Terra” (Overshoot Day), calculado anualmente pela organização Global Footprint Network. O déficit ecológico global teve início da década de 1970 e nossa dívida acumulada já é equivalente a 18 anos terrestres.
“A palavra agora precisa ser REGENERAÇÃO. Precisamos ter outros propósitos de vida precisamos acelerar esse processo”, alertou o professor nesta segunda-feira, 7 de dezembro, durante o quinto encontro do Ciclo de Humanização da Pro Criança Cardíaca, realizado online pela instituição. Quem assistiu pôde comprovar que o caminho é este para “A sustentabilidade no dia a dia e a busca por um mundo mais inclusivo e ambientalmente regenerativo”, tema do evento. Com simplicidade e muito carisma, durante duas horas Prof. Naka dividiu suas dicas e conhecimentos com mediação de Luana Lourenço, fundadora e diretora da Ocean Governança.
Palestrante e mestre em administração com foco em sustentabilidade na estratégia de negócios, Naka é professor da graduação e MBA da ESPM nas questões de ética, responsabilidade socioambiental, empreendedorismo social, terceiro setor e empreendedorismo. Também é fundador da ESPM Social, Abraps, Instituto Marco3 e Isetor.
Será que não devemos mudar nossos desejos de consumo?
A imagem de um grande engarrafamento da cidade de São Paulo abre a apresentação do Prof. Naka com o questionamento: o que por trás dessa foto? O individualismo, que leva as pessoas a usarem um carro só para elas, e o consumismo, que ainda leva o mundo a comprar carros mais pelo status do que pela necessidade, são alguns exemplos.
Mas se a natureza clama por uma economia de seus recursos naturais, se a mobilidade com carros próprios chegou ao limite nas grandes cidades, não devemos mudar nossos desejos de consumo? “As gerações mais novas não querem mais comprar um carro, elas preferem usar os aplicativos de transporte. Elas não querem nem mesmo uma casa própria, mas a liberdade de se mudarem quando quiserem”, exemplifica Naka.
Ele aproveita e chama a atenção para a expressão “novo normal”, que vem sendo usada para definir a fase pós-pandemia. “Mas nós tínhamos um ‘normal’ antes? É normal, por exemplo, precisarmos criar tantas organizações da sociedade civil e batalhar para angariar recursos e dar para a sociedade o básico a que ela teria direito? O duro é acharmos isso tudo normal. O que precisamos é sair dessa anormalidade”, clama o professor.
Como sair da anormalidade?
O uso das redes sociais como ferramenta de transformação é um dos pontos destacados pelo professor e ganha uma força imensa quando quem posta também faz. “O vídeo do canudinho de plástico saindo de dento de uma tartaruga, por exemplo, virou uma política pública que proíbe o uso desse tipo desse produto. É possível, sim, mudanças por meio das redes sociais, mas não adianta só acreditar, falar e postar nas redes. É preciso agir”, ressalta.
“Não conhecia o TikTok até ver minha filha usando. Resolvi colocar a foto da minha composteira e foram 18 mil visualizações. Você também pode fazer isso, usar seus próprios hábitos para incentivar a família, os amigos a terem ações mais sustentáveis, por exemplo, mostrar como você faz um suco com as cascas do abacaxi, divulgar a ideia de fazer xixi no banho para economizar uma descarga (imagine uma casa com muitas pessoas). A repercussão da composteira foi incrível e qualquer pessoa pode ter uma em casa, há tamanhos para todos os gostos, inclusive apartamentos pequenos. Estamos com o celular na mão o tempo todo e precisamos usar isso”, conta.
Pensamentos social: de dentro de si para as empresas e para o mundo
“Meu filho, apague a luz, feche a torneira, senão a conta vai vir alta”. Segundo Naka, crescemos com o pensamento sempre focado no financeiro, passamos a vida inteira pensando em ganhar dinheiro e pagar as contas. Mas o financeiro não é importante? “Claro que é, mas o mundo não é só dinheiro”, afirma. “Precisamos tomar nossas decisões a partir de um ponto de vista também social. Se formos comprar uma caneta, procurarmos saber: ‘quem será que fez essa caneta? Será que foi feita por mão-de-obra escrava, infantil? Será que é um produto homologado? Não vai fazer mal para mim, para o meu filho?'”
E esse pensamento precisa transbordar de dentro de si para dentro das empresas. Naka destaca a importância do mundo corporativo ter seu leque de ações sustentáveis: gestão de resíduos, respeito aos direitos humanos, postura ética… “Você sabe quais marcas serão lembradas após a pandemia? Aquelas que doaram. Foram mais 6 bilhões de doações para ajudar a população. Será que vamos continuar assim?”, reflete.
Mitzy Cremona, diretora executiva da Pro Criança Cardíaca, questionou Naka sobre esse movimento doações vindas de grandes empresas, que não foi sentido pela instituição. A Pro Criança conta com doações, em sua maioria, de pequenos empresários e de pessoas físicas.
Segundo o professor, acionistas têm escolhido comprar ações de grandes empresas e essa atitude já está repercutindo nas empresas para que sejam mais sustentáveis. É muito provável que procurem agendas positivas para tentar minimizar seus impactos e as organizações sociais precisam estar prontas para receber esses investimentos, por exemplo, com o desenvolvimento de indicadores que prestem contas do trabalho que realizam, por exemplo, indicadores de educação, de desenvolvimento humano das famílias.
“Acredito que no Rio a concorrência e as mazelas são muito grandes, e talvez alguns problemas estejam mais próximos dessas grandes empresas do que outros. O caminho é mesmo com as pequenas e médias e com as pessoas físicas, que todo mês fazem sua doação. A batalha é essa mesma, de ir buscar. É um esforço de todo o time, não é fácil não”, reconhece Naka.
E para terminar… por que é importante humanizar as empresas?
“Empresas sem pessoas não existem. Mas é importante sermos pessoas de verdade, não robôs. É muito comum vermos empresas se robotizarem, é só meta, números… Só vamos evoluir quando as pessoas puderem ser elas mesmas. Essa mudança já está acontecendo, mas ainda há muito a se fazer. Precisamos trabalhar em locais onde possamos expressas nossos sentimentos, e fazer nossos deveres, mas também exercer nossos direitos”
ALGUMAS DICAS DO PROF. NAKA:
1) Tenha uma composteira e diminua um pouco a quantidade do lixo a ser coletado
2) Apague a luz. Entenda o que está por trás, todo o ecossistema por trás desse ato. Por exemplo, estamos com as termelétricas ligadas porque não choveu o suficiente este ano. Dentro do mesmo raciocínio, escolha produtos com selo de economia de energia.
3) Para onde vai o dinheiro do nosso imposto? Acompanhe as ações de quem você votou e cobre do seu político o que ele prometeu.
4) Ajude um amigo quando ele precisar.
5) Recicle sempre, plástico, papel, vidros, leve suas pilhas aos pontos de coleta…
6) Faça uma pequena horta, mesmo quem mora em apartamento pode ter uma hortinha vertical. Você cuida de um ser vivo, é gostoso, vai ter mais contato com a natureza.
7) Não seja “ecochato”, “biodesagradável”, nem social boring. Simplesmente faça sua parte e seja bacana.
8) Se você duvida do aquecimento global, se acha que a Terra é plana, busque conversar com pessoas diferentes de você para conhecer outros pontos de vista. Ser radical, se fechar para o diferente é o que provocou as maiores atrocidades do mundo.
9) Gosta ou precisa muito do seu carro? Pense em formas de compensar os danos que um carro traz ao meio ambiente.
10) Escolha e faça uma ação por dia.
“E, por fim, repensem seu estilo de vida, pois precisamos buscar mais propósito e mais legado – que é impacto que provocamos em outras pessoas – seja para o bem ou para o mal. Que seja pro bem”, completa.
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Já postou sua dica sustentável no portal do Prof. Naka? https://diasmaissustentaveis.com/
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