“O maior de todos os erros é não fazer nada só porque se pode fazer pouco. Faça o que lhe for possível” (Sidney Smith). A frase abriu a palestra da engenheira florestal e sócia-fundadora da Impacta, Aline Fernandes, no Pro Criança Cardíaca, no dia 11 de julho. A convite da instituição, Aline e outros seis convidados compartilharam experiências sustentáveis com o público presente, num encontro que marcou o início da jornada do Pro Criança em direção à Certificação Lixo Zero. O selo é concedido pelo Instituto Lixo Zero Brasil, validado pela Zero Waste International Alliance.

Aline falou sobre ações simples que todos podem colocar em prática, desde levar a própria garrafa de água na bolsa e o próprio guardanapo de pano, tudo para não gerar resíduo. E introduziu o conceito de lixo zero: “Lixo é a nossa bagunça e irresponsabilidade, o resíduo é oriundo das atividades humanas. Lixo tem urgência de descarte, desperdício e prejuízos ambientais e econômicos; já o resíduo tem valor econômico agregado, geração de renda e recursos naturais preservados”.

O conteúdo da palestra da Aline e dicas úteis a todos que se preocupam com a continuidade da vida humana na Terra está no e-Book “Uma vida lixo zero”, que tem download gratuito pelo www.impactacomvoce.com.br.

Eva de Mello, embaixadora do Instituto Limpa Brasil, veio a seguir destacando
o movimento global “Julho sem Plástico”, que nos chama a repensar nossa relação com o uso desse material acumulando em casa, durante um tempo, o que descartaríamos na natureza. “Individualmente você pode escolher, ou não, apoiar a sustentabilidade; pode fazer, ou não, escolhas conscientes, só que os impactos da escolha individual são coletivos. O que estamos vendo no planeta é resultado das ações de cada um”, ressaltou.

Entre os conhecimentos compartilhados, Eva chamou a atenção sobre a higienização mínima necessária antes do descarte de embalagens para a coleta seletiva: “Muita gente diz que vai gastar água nessa higienização, quando é só deixar as embalagens dentro da pia que a própria água da lavagem da louça faz a sua parte. Talvez não seja tão simples no início, porque estamos muito acostumados a fazer do mesmo jeito há muito tempo, mas vale a pena para todos nós”.

Eva contou, por exemplo, que o movimento de separação do lixo e compostagem em seu condomínio reduziu as despesas em 60%, e o valor do condomínio baixou 10% e tornou-se o menor dos prédios da região onde ela mora. “Mais de 50% do que geramos pode ser compostado, 40% é reciclável e só 10%, aproximadamente, é o rejeito. Imaginem a quantidade de caminhões que tiraríamos das ruas, quantos benefícios podemos gerar se cuidássemos dos nossos resíduos…”.

A terceira convidada foi Márcia Regina Xavier, presidente da Cooperativa Bandeirantes, que desde 2013 integra o rol de cooperativas cadastradas na Comlurb que trabalham os resíduos da coleta seletiva. O que é chamado equivocadamente de lixo é transformado em matéria-prima e reinserido no mercado, dentro do contexto de Economia Circular.

“Gente, é simples e objetivo. Acabou o xampu, a caixinha de leite, a embalagem da pizza, passa a buchinha muito rápido para tirar os restos de matéria orgânica, amassa e separa. Não é só problema dos governantes, a população também tem que contribuir”, destaca Márcia, que é uma das nove famílias que tiram seu sustento do trabalho na cooperativa.

Fabio Martinazzo, idealizador e CEO do Pono Upcycling – que transforma garrafas de vidro recuperadas na natureza em copos e potes –  conta que a Pono nasceu de uma indignação pela má gestão de resíduos na natureza e de uma atração pelo vidro. “O vidro não tem circularidade que outros materiais recicláveis têm. Ele é perigoso, pesado, a indústria não paga muito para reaproveitá-lo, há essa lacuna. Fui estudar o assunto, porque queria fazer essa reciclagem profissionalmente”, disse.

Ele conta que no início pegava muitas garrafas na praia mesmo, nos bares e quiosques perto de sua casa, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio. No entanto, devido ao crescimento e necessidade de padronização dos produtos, com uma demanda maior por determinados tipos de garrafas, ele precisou recorrer à cooperativa da qual Márcia faz parte. Também começou a estudar serigrafia em vidro, para agregar valor ao produto, com desenhos e frases..

Para sua palestra, Fábio levou exemplares de coleções como a “Verão Carioca” , que traz seis elementos desse universo, com pessoas jogando altinho e o vendedor de mate. Outra linha traz frases como “Eu já fui uma garrafa”. A Pono também comercializa potes com tampas de rolha multiuso e velas ecológicas com copinho de vidro feito de garrafa de cerveja. As velas são produzidas com ceras biodegradáveis que podem ser descartadas sem causar danos à natureza.“O intuito da marca é levar a arte e o reuso para a casa das pessoas”, afirma o CEO, que mantém as portas do ateliê, no Recreio, abertas aos visitantes. 

Quem sucedeu Fábio no palco do auditório do Pro Criança foi Vitória Gondin, membro do movimento Horta do Vinil. Ela começou compartilhando um pouco dos hábitos dos pais, que sempre separaram resíduos e lixo, de suas brincadeiras de criança sempre conectadas com a natureza. “Fui morar num lugar do Alto da Boa Vista sem coleta seletiva, não consegui adesão da vizinhança e eu mesma levava meus resíduos para a cooperativa de reciclagem. Depois, me mudei para a Barra e descobri um lugar no bairro que faz compostagem. Conheci a equipe e pedi para colaborar na composteira durante os mutirões”.

Sobre a Horta do Vinil, que começou com tubos de PVC cujas laterais eram vedadas com discos de vinil para a terra não cair, Vitória conta que hoje, eles já trabalham com sistema agroflorestal e compostagem de resíduos de 15 famílias. “Levo meu baldão de 20 litros toda semana, de bicicleta, porque lá em casa a gente é forte, é muito resíduo orgânico todo dia, muita fruta no café da manhã, casca de legume…”

Agora, segundo ela, o objetivo é alcançar mais pessoas esclarecendo sobre a compostagem em casa, que é bem simples.

E já que o assunto era compostagem, o próximo convidado foi o biólogo Bernardo Duarte, fundador da startup Composta’e Gestão de Resíduos, que atende a região da Tijuca e adjacências. “Começar a diminuir o que estamos levando para os aterros sanitários é uma questão urgente. Os aterros são um passivo ambiental, vai continuar gerando custos ao contribuinte sem dar o retorno que ele deveria dar que é a destinação dos nossos resíduos. Só para se ter uma ideia, cada brasileiro produz, em média, 1Kg de resíduos por dia e metade é orgânico”, destaca.

Bernardo levou um dos baldinhos que as famílias podem ter em casa para colocar seus resíduos orgânicos e a Composta´e coleta com triciclos (para manter a pegada de baixo carbono) e trata os resíduos, transformando-os em adubo natural. “E aí chegamos num ponto em que é preciso falar sobre a nossa alimentação, nossa segurança alimentar, o quanto é necessário usar insumos naturais evitando a dependência de fertilizantes de outros países, por exemplo”. O biofertilizante ainda evita a degradação e a erosão do solo.

“Para quê vou pagar para fazer uma coisa que a Comlurb já faz de graça para mim?” é, segundo ele, uma das afirmações que ele ouve quando as pessoas conhecem o trabalho da startup. “Bom, o primeiro ganho que uma pessoa pode ter quando faz ou paga alguém para compostar para ela é a contribuição direta para o menor geração de efeito estufa, menor poluição do lençol freático*, do solo… Isso já é muito”, disse.

Quem encerrou o Ciclo de Humanização do Pro Criança no dia 11 de julho foi Rafael Zarvos, CEO da Oceano Gestão de Resíduos, que é focada na coleta domiciliar de medicamentos, máscaras, “resíduos biológicos que o poder público não coleta e vai tudo para o ‘saco preto’, e as empresas grandes também não querem coletar”.

Rafael começou reforçando a fala de Bernardo:. “A compostagem é a forma de praticarmos nossa cidadania ambiental sem depender do poder público. Só depende da gente querer. E se não tem tempo, contrata”. Ele chamou a atenção para o fato de que o nosso cérebro é preguiçoso e é necessário deixar de procrastinar, começar a se reprogramar e enfrentar nossos medos para mudar um hábito.

“Tentar participar de algum coletivo que pensa e age como queremos pensar e agir também nos ajuda, porque a sensação de pertencimento nos dá força. E podemos começar com ações simples, como carregar sempre uma bolsa de tecido para evitar usar sacolas plásticas nas compras. Somos 8 bilhões de pessoas na Terra, imagine cada pessoa pegando uma sacolinha apenas por dia. Podemos separar nossos resíduos em casa, em três partes – rejeito, recicláveis e orgânicos – comprar um copo de silicone e deixar sempre na bolsa, quem gosta de canudo, comprar um de bambu ou de aço…São pequenos gestos que fazem muita diferença”, disse.

Aline Fernandes parabenizou o Pro Criança Cardíaca por assinar o compromisso Lixo Zero e passou a palavra à Dra. Rosa Celia, que contou sobre seu hábito de, há muitos anos, separar os resíduos da casa antes de descartar, e recolher resíduos na areia da praia durante suas caminhadas matinais, sempre usando a camisa com a mensagem “Não deixe seu lixo na praia. A natureza agradece”. Dra, Rosa presenteou todos os convidados com a camisa.

O conteúdo completo do evento está disponível no canal do Pro Criança Cardíaca no YouTube!


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*Os lençóis freáticos representam uma alternativa à falta de água no mundo, visto que são capazes de alimentar rios, lagos e oceanos. Por isso precisam ter água de boa qualidade, pois são uma alternativa sustentável para suprir a demanda de abastecimento da população mundial. A disponibilidade de água está cada vez menor, desencadeando diversos problemas e criando inúmeros conflitos no mundo todo. (Fonte: PreParaEnem)