Em meio a uma semana de competições da filha, Bettina, que aos 13 anos é nadadora da categoria Infantil do Clube de Regatas do Flamengo, Mitzy ligou para a mãe e pediu ajuda para aconselhar a filha. ”Tenho 15 anos de análise, uma senhora bagagem de leitura, de mestres que passaram e continuam na minha vida, mas, nessa hora, minha mãe, Marili, teve a palavra mais sábia. Do alto de sua simplicidade, me disse o que eu precisava ouvir, aliviou meu coração e me deu tranquilidade para passar segurança para a Bettina,. Foi um momento muito bonito”, conta Mitzy Cremona, diretora executiva do Pro Criança Cardíaca, ao ser perguntada sobre a relação com os pais, ambos, hoje, com pouco mais de 70 anos.

Se a mãe é uma base firme e intuitiva na vida de Mitzy, o pai, Ricardo, por sua vez, é sua maior referência quando o assunto é ampliar a visão de mundo pela leitura. “Cresci observando meu pai lendo os vários livros, a cabeceira era cheia deles, a revista semanal. os jornais impressos (assinava três!) espalhados ao lado da poltrona. Ele incentivava, a mim e ao meu irmão, lermos pelo menos um caderno inteiro do jornal. É claro que íamos sempre para os cadernos de cultura. Depois fomos crescendo e, antes da internet, essa foi nossa principal fonte de notícias sobre o país e o mundo”, recorda.

Mitzy tenta passar essa relação de afeto com a leitura em papel para a filha: “Recorto notícias e coloco no quarto dela para poder aprofundar um pouco, porque na internet tudo é muito raso. Sigo firme disputando com o celular”.

Nas manhãs de domingo, Bettina compartilha com a mãe um ritual considerado sagrado por Mitzy, que avança nas leituras profissionais e do MBA  (Liderança, Gestão e Produtividade pela PUC-Rio), devora o jornal do dia e as páginas do ‘livro da alegria’, como costuma chamar o que escolhe só por prazer. Ao longo da semana, à noite, assiste um pouco de TV e lá pelas 21h começa sua hora da leitura. “É uma pena perceber que as pessoas só conversam hoje sobre o que viram no Netflix, pouco falam sobre livros”.

Quem divide com Mitzy a paixão pela leitura é seu irmão, Michel (“meu melhor amigo e cúmplice de histórias de vida”) que, inclusive, trabalha numa livraria. “Esse é um dos programas que mais gosto e sou daquelas que seguem as indicações dos livreiros, que têm muita informação sobre as obras e já conhecem o estilo de clientes assíduos, como eu”.

Além de Michel, Mitzy tem uma irmã, Maria Victoria, do segundo casamento do pai, cujas raízes são portuguesas. Mas foi a família da mãe, vinda da Itália, que deixou o traço mais forte em todos. “Falamos alto, todo mundo é meio mandão, brigamos entre a gente, mas se alguém arrumar confusão com algum dos nossos, aí lascou! Somos muito unidos!”, diz Mitzy, que ficou toda satisfeita quando a filha pediu para conhecer suas origens maternas no aniversário de 15 anos, visitando a província italiana de Cremona, na região da Lombardia.

Bettina é, aliás, um grande motivo de alegrias para a mãe, especialmente por praticar natação e treinar para competir. Mitzy também foi atleta de alta performance na infância e adolescência e sabe o quanto essa rotina é positiva. “Pelo esporte, ela experimenta a perseverança e a disciplina. Óbvio que com isso vêm o medo, a frustração, a ansiedade, a dúvida, mas faz parte. A Bettina já está colhendo os resultados: é uma ótima aluna, o despertador toca e não tem essa de não ir para aula, cumpre seus compromissos com os professores da mesma forma que cumpre com o técnico. O esporte é uma bela escola, que prepara o jovem para os desafios da vida adulta, enquanto os mantêm numa vida saudável”, afirma.

Desafiar-se é outro prazer de Mitzy, que aplicou num bracelete sua frase predileta: “A sorte protege os audazes”, do poeta romano Virgílio. “Fui nadar em águas de aperfeiçoamento de comunicação com muita vontade de acertar. Estou treinando muito. Descobri que esse é um processo contínuo e sem volta. Investir tempo no relacionamento com as pessoas no ambiente de trabalho e fora dele traz um bem-estar viciante”, completa.

Vamos ao nosso ping-pong, conhecer um pouquinho mais da diretora executiva do Pro Criança Cardíaca?


Qual seu filme favorito? (pode ser livro também, ou ambos)
O filme é “A vida é bela” (Roberto Benigni) e, o livro, “A Sombra do Vento” (Carlos Ruiz Zafón), um autor genial indicado pelo meu pai. Li há bastante tempo e só posso dizer que o final é surpreendente.

Que comida faz você suspirar?
A macarronada com molho à bolonhesa, tradição familiar que veio dos meus avós Cremonas. Esse macarrão vem repleto de memória afetiva.

No seu tempo livre você gosta de….
Ler, cuidar das minhas plantas e estar com minha família.

Que pessoa você admira muito?
Eu admiro muito todas as pessoas que passaram pela minha vida e me deixaram algum ensinamento: professores, técnicos de natação, meus pais, meus avós… Vale um destaque para meu padrinho Lelo, sem dúvida alguma a pessoa que conheço que tem mais alegria de viver, e por quem tenho verdadeira paixão. Cito também minha mentora, Luana Lourenço, que vem me ensinando a praticar o amor de forma incondicional e inovadora; e, ainda, uma mulher sinônimo de empoderamento e engajamento, a poderosa Michelle Novaes.  

Que sonho seu já virou realidade?
Consegui formar minha família e trabalhar com o que mais amo.

Qual sonho quer realizar?
Fazer um mestrado voltado para políticas públicas e organizações sociais, embora meu maior mestrado seja a Dra. Rosa Celia em pessoa. Há 13 anos, ela me deu uma pasta de ouro e disse “Toma, desenvolve!”. Ela me ensinou que liderança e respeito não são impostos, são conquistados. É uma visionária, uma mentora que compartilha muito conhecimento e oportunidades, abriu os caminhos para que eu me relacionasse com pessoas extraordinárias e super influentes em prol do bem. E assim eu fiz…

Quero muito devolver, passar à frente o que eu ganhei nesses anos. Adquirir mais conhecimento é uma forma de fazer isso. Terei ainda mais chances de promover um melhor entendimento do terceiro setor para pessoas interessadas, mostrar que não é um bicho-de-sete-cabeças, que é possível implantar uma governança humanizada dentro de uma organização social. Muita gente no mercado quer ajudar, mas não sabe a quem dar essa ajuda.

O que você mais gosta em você?
Minha espontaneidade e alegria de viver.

Que frase inspira sua vida?
A sorte protege os audazes, do poeta Virgílio.

Ajudar os outros é…
Um vício. Não me vejo mais trabalhando sem propósito.

Trabalhar no Pro Criança significa…
Servir. Acordar todos os dias para trabalhar na casa mais linda de Botafogo e,  já no portão da casa encontrar e estar em contato com as famílias atendidas. Ir atrás de ideias para desenvolver ainda mais o projeto, trazer novas diretrizes para toda equipe, engajar todos os colaboradores e encantar os parceiros e doadores!

Preciso deixar aqui a gratidão que tenho pelas pessoas maravilhosas que trabalham comigo no Pro Criança. Cada membro da equipe é excepcional, todos são muito engajados na causa!