A primeira cena que Gabriel Buzzi viu ao abrir o portão do Pro Criança Cardíaca, em 2015, quando assumiu como auditor independente, foi uma criança com a boca suja de jabuticaba, colhida direto do pé que fica no jardim da instituição. “A gente acha que vai ver criança triste, sofrendo, e quando chega presencia um momento lúdico desses. Nunca vou me esquecer”, conta ele, ao relembrar o início de sua trajetória no projeto.

Gabriel chegou como colaborador da Baker Tilly, uma das maiores do mundo no ramo, e conduziu as auditorias do Pro Criança por seis anos até que, em 2021, foi convidado a fazer parte do quadro de funcionários da instituição.

Ser um profissional da área financeira não fazia parte dos seus planos iniciais, apesar de o pai, Paulo, ser referência no mercado contábil. Gabriel é graduado em Relações Internacionais e ambicionava a carreira diplomática, talvez inspirado pela tia-avó, Rosita, que trabalhava no Itamaraty. “Ela chegava da Itália, onde morava, e ia passar o Natal conosco. Eu e meus primos ficávamos fascinados com uma cidadã do mundo, pedindo para ela falar várias palavras em italiano”.

Foi também essa tia que rastreou as origens da família Buzzi, do pai de Gabriel. Quando ela se aposentou, continuou vivendo na Itália e conheceu os parentes das pessoas que imigraram para o Brasil. O bisavô de Gabriel, Guido, tinha cinco irmãos: dois ficaram na Itália – um era comandante da Marinha e outro morreu na Primeira Guerra; dos quatro que fugiram do conflito, dois foram para o Uruguai e dois vieram para o Brasil, um deles para o Rio de Janeiro, instalando-se em Santa Teresa.

O bisavô morreu quando o avô de Gabriel, Paulo, tinha apenas oito anos, e tanto o menino, como sua irmã, foram criados em colégios internos. Paulo, onde hoje é a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica. Rosita foi para o Colégio Assunção, em Santa Teresa.

“Saber nossa história nos faz valorizar a família e, como descendemos de imigrantes, ter a consciência de que nossa casa é o mundo. Temos um universo disponível para conhecer e explorar”, reflete Gabriel, que realizou um pouco do seu desejo de desbravar outros países quando era auditor, viajando para o Canadá e a Colômbia. Sua mãe, Rosana Valente, também tem origem italiana. Desse lado da família, Gabriel diz não saber quase nada, apenas que vieram da cidade italiana de Cosenza.

E já que o assunto é mãe, voltemos à infância do nosso entrevistado, que dos quatro aos 20 anos morou em Santa Teresa. “Sou muito feliz por ter crescido lá. Andava de bonde, brincava na rua, jogava futebol em ladeira… É uma cidade do interior dentro da cidade grande, todo mundo se conhece”.

De alguma forma, Gabriel manteve os hábitos de cidade pequena que o marcaram. Hoje, aos 32 anos, mora na Rua Dona Mariana, em Botafogo, a poucos metros de onde trabalha. E o seu coração? É de Tamyres, com quem namora há 11 anos e vai se casar em outubro de 2023.

Agora, nosso esperado ping-pong com o convidado da vez da nossa série “Pessoas do Coração”:

– Qual seu filme favorito? (pode ser livro também, ou ambos)
Sou um pouquinho maníaco pelo Tolkien (J.R.R. Tolkien [1892-1973], autor britânico de obras como O Hobbit, O Senhor dos Anéis) sou membro da Tolkien Society e acho “O Hobbit” um dos melhores livros de todos os tempos. É o tipo de literatura atemporal e para todas as idades. Os filmes são bons, mas os livros são melhores.

– Que comida faz você suspirar?
Todo tipo de massa. E o molho à bolonhesa é o meu preferido.

– No seu tempo livre você gosta de….
Gosto de bons filmes, sou muito fã de futebol americano. Tenho tido pouco tempo livre. Além do trabalho, estou cursando uma pós-graduação na UFRJ – Economia e gestão da sustentabilidade – com uma carga de leitura pesada.

– Que pessoa você admira muito?
Minha mãe, pela sensibilidade que embutiu em mim, e meu pai, por ser um modelo de profissional ético e comprometido. Ele está indo para o terceiro casamento e brinca que o casamento definitivo dele é com a contabilidade. Entre personalidades, admiro o Tolkien, o Barão do Rio Branco e o Churchill.

– Que sonho seu já virou realidade?
Conhecer outros países, sair da casa dos pais e ter a minha casa.

– Qual sonho quer realizar?
Ganhar destaque no terceiro setor, conseguir provar que ter conforto financeiro e impactar o mundo é possível. Conseguir sempre trabalhar com propósito. Esse é o sonho de agora em diante.

– O que você mais gosta em você?
Sou muito bem humorado, faço piada de tudo. O bom humor é um remédio para muita coisa. Quando rimos juntos, evitamos que as barreiras entre nós se ampliem. Bom humor é antídoto para a vida.

– Que frase inspira sua vida?
“Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado”, de J.R.R. Tolkien. A gente é livre para fazer o que quiser, desde que tenhamos consciência das consequências.

– Ajudar os outros é…

Primeiro procurar entender o que as pessoas realmente precisam. Em se tratando de projetos sociais, há casos que não correspondem às expectativas das comunidades nas quais eles se inserem. E, no nosso dia a dia, ajudar é levar otimismo, mostrar saídas, perspectivas de melhorias.

– Trabalhar no Pro Criança significa…
Uma oportunidade diária de dar vida. Mais do que salvar, damos vida acolhendo as famílias, dando apoio ao longo tratamento, fazendo o bem diariamente.