Desde os oito anos de idade, o pai falava que ela seria pianista profissional e que viveria da música. Naquela época, estudava, gostava e levava jeito com o instrumento, mas ainda não sabia o caminho que teria na vida.

Foi ao ingressar no Ensino Médio, e ter contato com as matérias Biologia e Ciências Humanas, que Raizza pegou gosto e se encantou com os milagres que presenciava nas pesquisas apresentadas e realizadas em sala de aula. A partir dali, a medicina passou a ser a sua única opção de carreira.

Caçula de três irmãos – Alvaro Fernandes da Costa, Boaz Fernandes da Costa e Augusto César Fernandes da Costa -, nasceu em uma família de perfil tradicional e sem relação com a medicina. Os pais eram advogados e não exerceram a profissão; a mãe, Leide Barbosa Gomes, 20 anos mais nova que o Seu Alceu Fernandes da Costa, cuidou do lar enquanto o pai se dedicava ao comércio.

Raizza encarou alguns desafios até o patriarca aceitar a sua vontade pela área médica e apoiá-la. A carioca de Belford Roxo não hesitou quando o Seu Alceu informou ter conseguido uma bolsa na Universidade Iguaçu. Era a música também apadrinhando a sua decisão.

 

Aos 17 anos, foi morar sozinha próximo à faculdade para se dedicar aos estudos e ao coral, que garantia o desconto fundamental para a sua formação.

E, quebrando paradigmas, com 23 anos estava formada e sabia que uniria as suas duas novas paixões: cardiologia e pediatria. Depois de passar por diferentes áreas na prática, a “sensação de plenitude e realização” era diferente com a pediatria.

“Tive muito prazer em lidar com crianças e a certeza de que queria aquilo para o resto da minha vida”, conta hoje, depois de 10 anos e grávida de sete meses do primeiro filho, o Gabriel, com o marido Gustavo Medeiros da Silveira, também médico.

Eles se conheceram fazendo o que a profissão tem de mais bonito: o bem sem olhar a quem. Estavam no refeitório do Instituto Nacional de Cardiologia quando Gustavo pediu uma informação para ajudar a saúde de um menino que Raizza, sem ele saber, poderia auxiliar. Era um caso de cardiopatia infantil.

Raizza Fernandes da Costa é pediatra do Pro Criança há 10 anos, trabalha tanto no projeto como na clínica particular da Dra. Rosa Célia. Tem orgulho do que faz e de como pode transformar vidas com o dom descoberto. O bate-papo leve e descontraído embalou a entrevista para o Blog Pequeno Coração.

Conte um pouco sobre como é para você fazer parte do time Pro Criança Cardíaca?

Antes de fazer parte da equipe do Pro Criança Cardíaca, eu já conhecia e admirava o projeto. O trabalho da Dra. Rosa é incrível e único dentro da cardiologia pediátrica. Sou extremamente grata por ter a oportunidade de aprender no dia a dia com quem tenho como referência. Iniciei na UTI e foi em contato com pacientes graves e complexos que entendi ainda mais a importância do Pro Criança na vida de muitas famílias carentes. Apenas com apoio social os pequenos garantem o suporte fundamental para o tratamento, como exames, locomoção, cesta básica e medicamentos, além de uma assistente social orientando sobre auxílio e cuidados.

O que a motiva diariamente?

Voltar a ver um sorriso no rosto de alguém. Muitas histórias no Pro Criança me marcaram e seguem marcando a minha vida,  mas essa em especial. Estava sempre em contato com a mãe de um menino internado há muitos meses, ela, cabisbaixa, nunca sorria. Após o seu filho receber um novo coração, eu vi a transformação dessa mãe. Graças a esse trabalho a gente consegue presenciar grandes milagres.

Você está prestes a ser mãe do primeiro filho, como tem sido essa grande mudança de vida?

Maravilhoso, mas tem sido cansativo. Estou na fase de conciliar trabalho, arrumação de casa, quartinho do bebê… e gosto de fazer atividade física, fazer o que prego, como comer saudável, ter uma rotina equilibrada para a saúde. Quando consigo um tempo livre, gosto de caminhar na orla e de viajar com o marido nos finais de semana.

Trouxe meus pais para morar perto de mim, o que tem sido importante para eu estar próxima deles, principalmente agora que meu pai tem 84 anos e está com a saúde debilitada.

Quais seriam as referências na sua vida? E grandes nomes da cardiologia pediátrica que foram fontes de inspiração?

Não poderia deixar de citar a cardiologista americana Helen Brooke Taussig, uma mulher à frente do tempo, que junto com o Alfred Blalock criou uma cirurgia que até hoje a gente usa com grande frequência nas nossas crianças com doenças graves, que chamamos de cardiopatia cianótica, antigamente chamada de “Síndrome do Bebê Azul”. Uma cirurgia paliativa que permite melhorar a qualidade de vida dessas crianças.Um marco dessas pessoas na história da cardiologia pediátrica que, em 1944, desenvolveram a técnica.

Outras figuras que marcaram e que eu admiro muito profissionalmente foi o professor Adib Jatene, brasileiro que criou uma nova técnica cirúrgica no tratamento da transposição das grandes artérias, e José Pedro da Silva, professor que também é um grande destaque da cardiologia pediátrica a nível mundial com a técnica cirúrgica do cone. Grandes nomes da cardiologia, pessoas que me inspiram e dedicaram a vida

Também não posso deixar de citar a Dra. Rosa pelo grau de comprometimento e legado que fez e faz pelas nossas crianças. Fico impressionada com a capacidade da Dra. Rosa lembrar de todos os nomes, pacientes e casos, e o carinho e dedicação que ela demonstra com cada um, não só com os pacientes, mas também com as famílias.

Para finalizar, e o piano? Ainda faz parte da sua vida?

Ahh sim! Continuo tocando como hobby, tenho um em casa e um no sítio da família.