A vida simples da infância vivida em um bairro tranquilo no interior do Espírito Santo é lembrada com carinho pela Dra. Cynthia Moraes Nolasco, que escolheu a Cardiologia Pediátrica como missão de vida e, desde setembro de 2021, faz parte da equipe do Pro Criança Cardíaca. O Pessoas do Coração traz uma bate-papo com essa profissional que inspira outras mulheres e acolhe muitas famílias com crianças em tratamento cardiológico.

Conte um pouco sobre sua infância, família e o que gosta de fazer nas horas vagas?

 

Minha infância foi no interior do estado do Espírito Santo. Uma infância simples, em uma rua sem calçamento, em um bairro tranquilo e cheio de crianças de todas as idades, que garantiam a diversão e companhia para todos os dias após a escola.

Aos finais de semana, eu, meus pais e meus dois irmãos, íamos para o sítio. Lá, a grande diversão era recolher os ovos das galinhas, andar a cavalo, alimentar os porcos, comer as frutas direto do pé e assistir a retirada de leite das vacas e as mamadas dos bezerros.

Hoje, longe do meu interior, aprecio, nas horas vagas, atividades ao ar livre. Amo correr, pedalar e nadar.

Como você decidiu se tornar médica e qual foi o seu caminho até a especialização?

Decidi me tornar médica pouco antes do Ensino Médio, não sei dizer exatamente quando, mas lembro de já entrar no Ensino Médio decidida.  Estudei numa Escola Federal de tempo integral e fiz o Ensino Médio técnico em Agropecuária. Apesar de ter gostado do aprendizado e considerar como uma das melhores épocas da minha vida, já era convicta de que não faria daquilo a minha carreira profissional. Depois daqueles três bons anos de Ensino Médio e técnico, vieram dois anos difíceis de cursinho pré-vestibular; a tão sonhada aprovação em Medicina em 2009 – da qual cursei até 2014 –, os quatro anos de residência médica e, por fim, a pós-graduação em Ecocardiografia Pediátrica. Um total de onze anos de dedicação e imersão à Medicina e minha especialidade: Cardiologia Pediátrica.

O que te motivou a trabalhar com crianças com cardiopatia? Existe alguma história ou experiência que marcou sua trajetória nesse sentido?

 

O desafio. É desafiador trabalhar com tanta complexidade em seres tão pequenos, inocentes e vulneráveis. Um diagnóstico bem feito, uma cirurgia bem indicada e uma boa escolha de medicação podem mudar a história da vida de uma criança, e isso é minha maior motivação: melhorar a vida das crianças com cardiopatia com decisões acertadas e bem fundamentadas.

Poderia compartilhar conosco um momento gratificante ou emocionante que vivenciou ao cuidar de uma criança com cardiopatia? Como essa experiência impactou você pessoalmente e profissionalmente?

 

Tenho várias memórias de momentos inesquecíveis. O despertar de uma criança após um transplante cardíaco, uma alta hospitalar de um pequeno que precisou de cirurgia cardíaca de urgência por manter saturação de oxigênio baixa a despeito de medidas clínicas… são exemplos de gratas memórias que nos emocionam e incentivam a seguir em frente.

Quais são os principais desafios enfrentados no trabalho com crianças cardiopatas? E como você e a equipe lidam com eles?

Por lidar com complexidade variada, acredito que o grande desafio é entender e aceitar todos os tipos de desfechos. Nem sempre é possível curar e aumentar o tempo de qualidade de sobrevida. Conviver e presenciar os danos e as perdas, apesar da dor, nos faz mais fortes e determinados a buscar o sucesso.

Além do tratamento médico, quais outros aspectos são importantes para o cuidado integral das crianças com cardiopatia?

 

Isso eu posso falar com propriedade porque o Pro Criança Cardíaca é especialista nisso. É o lugar que vejo a aplicação do termo “integralidade” em sua maior e melhor versão. Além do acesso ao tratamento clínico, hemodinâmico e cirúrgico, as crianças com cardiopatia congênita têm acesso a exames de alta tecnologia, e aos serviços de odontologia, nutrição, psicologia, assistência social, pedagogia, entre outros, sem contar com muito carinho e acolhimento.

Eu admiro muito o alcance e o serviço global do Projeto Pro Criança Cardíaca e acredito ser essa a grande diferença de outras instituições que também cuidam de crianças com cardiopatia congênita.

Quais são as maiores conquistas ou avanços que você presenciou na sua carreira?

 

Ao longo dos últimos anos, presenciei o avanço das técnicas minimamente invasivas e seus frutos. Observamos incisões e cicatrizes menores, menos tempo de exposição à circulação extracorpórea durante algumas cirurgias, além do avanço de estudos de medicações mais eficientes e o aumento e sucesso dos transplantes cardíacos pediátricos.

Na sua opinião, qual é o papel das Organizações sem fins lucrativos, como o Pro Criança Cardíaca, na melhoria do acesso ao tratamento de crianças com cardiopatia no Brasil?

Na minha opinião, o papel das organizações – o qual o Pro Criança já executa com maestria – é oferecer o melhor tratamento e acompanhamento possíveis, respeitando a individualidade e peculiaridade de cada um.

Conte um pouco sobre o seu momento prestes a ser mãe…

Ahhh… está chegando a minha vez! Depois de muitos anos cuidando de filhos e filhas de outras pessoas, estou com o coração repleto de alegria e amor para receber minha filha, tão sonhada e planejada. Entendo as mudanças e estou preparada para me dividir e me dedicar à família, sem prejuízo da vida profissional – que tanto me completa.