No Dia Mundial da Alimentação, em 16 de outubro, celebramos não apenas a importância de uma alimentação saudável, mas também destacamos o papel crucial que a nutrição desempenha no cuidado das crianças com cardiopatia congênita. Uma alimentação adequada pode ter um impacto positivo significativo na saúde dessas crianças, promovendo não apenas a prevenção de complicações, mas também proporcionando vitalidade para uma vida mais plena.

Conversamos com a Nutricionista Carolina Maalouf do Pro Criança Cardíaca, que nos revelou como a nutrição desempenha um papel vital no cuidado dessas crianças. Ela enfatiza a importância de uma alimentação equilibrada, que não apenas reduz os riscos de complicações de saúde, mas também aumenta a energia das crianças, permitindo que elas estudem, socializem e se desenvolvam de maneira saudável.

Durante a entrevista, ela compartilhou como a equipe do Pro Criança Cardíaca aborda os principais desafios nutricionais que as crianças com cardiopatia congênita enfrentam. A educação das famílias sobre a importância da alimentação saudável é o primeiro passo, seguido pela adaptação das orientações nutricionais de acordo com as necessidades de cada paciente, levando em consideração a cardiopatia e monitorando o crescimento e o ganho de peso.

A entrevista também oferece insights sobre a trajetória profissional da Nutricionista e como ela chegou à Organização Social que cuida dessas crianças. Seu amor pela nutrição pediátrica e seu desejo de fazer a diferença a levaram a essa jornada gratificante. Também compartilha histórias emocionantes de sucesso, destacando como suas orientações transformaram a vida das crianças, melhorando seu ganho de peso, aliviando problemas de saúde e até influenciando positivamente as famílias.

Atuar neste cenário desafiador de cuidar de crianças com cardiopatia congênita é um chamado que a Carolina abraça com determinação e paixão. Ela acredita que a informação é transformadora e vê a nutrição como uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida.

Boa leitura!

Como a nutrição desempenha um papel crucial no cuidado de crianças com cardiopatia congênita e qual é o impacto positivo que uma alimentação adequada pode ter em sua saúde?

Uma nutrição balanceada está diretamente relacionada à promoção da saúde, então quando organizamos a rotina e conversamos com o paciente sobre fazer algumas mudanças com o intuito de melhorar a qualidade da alimentação, conseguimos melhorar o sistema de defesa do corpo (reduzindo os alimentos que têm impactos negativos e aumentando alimentos com maior densidade nutricional e benefícios ao organismo) e isso ajuda a reduzir por exemplo os riscos de complicações caso ele fique doente por algum motivo, o que é muito importante ainda mais no caso do paciente que é cardiopata. Também conseguimos proporcionar mais vitalidade, então ele consegue ter mais energia para estudar, socializar, se desenvolver e fazer atividades do dia a dia, vivendo de forma mais plena.

Quais são os principais desafios nutricionais que as crianças com cardiopatia congênita enfrentam, e como sua equipe aborda esses desafios de maneira específica na instituição social?

Apesar dos pais saberem que seus filhos necessitam de cuidados mais apurados, muitas vezes a família já não tem bons hábitos alimentares e acaba acostumando a criança a comer alimentos que não são saudáveis. Às vezes também há muito o foco nas medicações que devem ser administradas e a alimentação acaba sendo esquecida. Então, o primeiro passo é conversar com os pais e elucidar a importância de uma alimentação balanceada para a família toda, especialmente para a criança cardiopata. Como muitas vezes essas crianças têm um gasto energético mais elevado pela própria cardiopatia, devemos avaliar a necessidade de aumentar alimentos com maior densidade calórica e nutricional, então não adianta por exemplo consumir muitos alimentos industrializados que têm sim muita caloria, mas são extremamente pobres em nutrientes. Como os pacientes ainda estão se desenvolvendo, é muito importante casar as demandas que eles têm com a alimentação ofertada, então é sempre importante ficarmos atentos ao crescimento e ganho de peso esperado, considerando também a cardiopatia e monitorando sempre a evolução de cada paciente.

Conte um pouco da sua trajetória profissional e como chegou na instituição social que cuida dessas crianças?

Desde antes de começar a faculdade eu já pensava em trabalhar com crianças porque sempre gostei bastante desse público e dos desafios que envolvem as primeiras fases da vida. Durante a faculdade, quando comecei a ter contato com matérias da pediatria, eu só confirmei e aumentei ainda mais a minha vontade de atuar na área, até ficava ansiosa esperando as aulas porque já conseguia me imaginar atuando nesse nicho, também aproveitava que a professora tinha bastante experiência e sempre conversava com ela, já queria saber mais ou menos como era estar inserida nessa área.

Associado a isso, desde pequena eu via os meus pais apoiando e incentivando a caridade, então talvez por isso, sempre tive muita vontade de participar de trabalhos voluntários e logo quando completei a idade mínima, comecei a fazer atividades com crianças em diversos ambientes, teve até uma época que consegui associar três voluntariados distintos e mais um que eu ia esporadicamente e eu ficava muito feliz e motivada com essas atividades. Com a pandemia, todos os voluntários tiveram que parar e eu senti muita falta, então como já estava caminhando para o final da graduação, pensei em dessa vez fazer um estágio voluntário, contribuindo então com os meus conhecimentos em nutrição.

Pesquisando sobre instituições sociais, eu encontrei o Pro Criança Cardíaca e após ver que tinha um serviço de nutrição, entrei em contato com a nutricionista da época e, assim, comecei a estagiar no projeto. Depois de um tempo eu me formei e fui convidada a integrar a equipe como nutricionista, então eu vejo o meu trabalho como um propósito e isso me motiva ainda mais a auxiliar e guiar os meus pacientes da melhor forma possível.

Como você se envolveu inicialmente e quais foram as principais realizações ao longo desse percurso?

Quando comecei no Pro Criança eu ainda estava na graduação, então eu acompanhava e auxiliava a Maria Eugênia, que trabalhava no projeto na época. Quando tinha algum evento da nutrição ou algo do tipo, eu já gostava de poder ajudar usando a criatividade, já que quando trabalhamos com crianças, precisamos ser mais dinâmicas. Com o tempo, depois de me tornar nutricionista, eu fui aprimorando a consulta da forma que eu julgava que iria agregar mais para os pacientes e fui adequando as conversas de acordo com cada família e demanda. Também pude usar um pouco mais a criatividade para trazer brincadeiras e atividades lúdicas para as crianças, que com a parceria da pedagogia, foi possível trabalhar alguns conceitos na recepção, enquanto aguardavam as consultas mesmo. Hoje em dia, cada vez mais se fala de nutrição e novos assuntos vão surgindo, então certamente terei outros tópicos para trabalhar com as famílias e com os colaboradores no futuro.

Pode compartilhar algumas histórias de sucesso ou momentos gratificantes que vivenciou ao ajudar essas crianças a melhorar sua saúde por meio da nutrição?

Como cada paciente tem uma demanda específica, já vivenciei alguns momentos gratificantes em situações diferentes. Certa vez, os pais de um bebê cardiopata chegaram na sala já sorrindo e contando que minhas orientações auxiliaram no ganho de peso, na melhora da constipação e também impactaram reduzindo o estresse e ansiedade da família, por melhorar essas queixas. Também já tive um paciente que é autista, que veio todo orgulhoso me contar que ele mesmo fala na escola e nos ambientes que ele frequenta que não é para oferecerem alguns alimentos para ele, já que combinamos algumas mudanças alimentares respeitando sua individualidade e sensibilidades que foram identificadas durante a consulta.

Como é para você atuar neste cenário desafiador, cuidando de crianças com cardiopatia congênita?

Cuidar de crianças com cardiopatia congênita é um desafio, já que cada uma delas vai ter suas próprias demandas e limitações, então devemos sempre adequar a alimentação da melhor forma possível para impulsionar que alcancem o seu pleno desenvolvimento. Do mesmo modo, é muito satisfatório acompanhar como podemos melhorar a qualidade de vida dos pacientes através dos alimentos e também como a nutrição pode ser o primeiro passo para outras mudanças, então se por exemplo a criança não se alimenta bem e não tem uma qualidade de sono adequada e depois de receber orientações na consulta ela consegue mudar esses parâmetros, é interessante ver como isso impacta na melhora de sua saúde geral. Por isso que eu acredito que a informação é transformadora e sempre gosto de conversar com os pacientes explicando a importância daquelas mudanças propostas, para que eles consigam entender os benefícios que terão e assim, faça sentido para eles também.

Quais aspectos da sua profissão lhe trazem maior satisfação nesse contexto?

Eu optei por seguir a área da saúde muito por vocação, já que desde criança eu gostava muito de ajudar e cuidar das pessoas, então agora já adulta, poder cuidar dos meus pacientes e acompanhar suas evoluções me deixa muito contente. Dessa forma, observar desde um bebê que começou a se desenvolver de forma mais satisfatória após a intervenção nutricional, até um paciente com sobrepeso que começou a ter mudanças na alimentação e às vezes no próprio comportamento e na autoestima me deixam muito feliz e comprometida em sempre continuar estudando para poder oferecer um atendimento que consiga de alguma forma mudar um pouco a vida de cada paciente para melhor. Utilizar a nutrição como ferramenta para mudanças e incentivar o processo do paciente ir atrás da sua melhor versão é, de fato, muito satisfatório.